A palavra reflete o homem, ao mesmo tempo que dele surge. O que seríamos nós, seres isolados, solitários e sem expressão, se não fosse pelo dom da palavra? A palavra figura o poder que temos de expressar nossos pensamentos, dúvidas, ideais e ideias, medos e angústias, nossas aspirações e suspiros de desejos e enganos. Tudo que é abstrato e etéreo, e faz parte do mundo interior que todos nós carregamos em nossas mentes e corações, se faz real por meio da palavra, mesmo que não dita, seja ela apenas pensada. Real na medida em que extrapola nossa consciência e alcança o mundo que é compartilhado entre nossos iguais. Real na medida em que se cria e é criada por nós, sendo assim, dos seres humanos, uma extensão. Uma extensão do que é ser humano, um ser que cria e se recria a cada palavra. Um ser que inventa, muda, destrói e constrói, sempre mediante a palavra, que lhe é escrava e rainha, da qual é e sempre será servo e também, e ainda, rei. Qual o limite do pensamento inventivo do homem? Esse, então, será o limite da palavra. Portanto, se, de acordo com o dito popular, "palavra fora da boca, é pedra fora da mão" podemos entender, ainda, que tanto pode ser pedra que machuca como pedra de salvação. Por que não?
Sobre o texto:
Romance LIII ou das Palavras Aéreas in: MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442-94.
Atividade de Português I - Direito 1º Período