Espelho, espelho meu...que me dizes depois de tantas primaveras, quantas já são? Perdestes a conta, ou não fazes mais questão de contar?
Tantas tormentas enfrentastes de peito aberto, tão aberto, a ponto de rachar...Tantas noites de terror vivo e em câmera lenta, ouvindo teu coração pulsar no desespero da dúvida...com que forças te levantastes do chão?Já chegastes a ver as marcas dos teus erros, das palavras não ditas, dos sonhos abafados, da dor provocada, do mal consentido, da pura falta do que é luz e eterno....mas diga-me: tivestes coragem de limpar?
Teu sangue já verteu tanto, e de novo, e sempre.... Onde está tua força, onde ela se esconde? Onde ela se mostra? O que te é insuportável? Qual é o teu limite? Já chegastes lá? Ou já passastes por ele há tempos?
Que frio contorcido é esse que sentes a cada pôr-do-sol? Como se a luz dourada e morna rachasse tua alma em milhões de minúsculas partículas invisíveis e inconsistentes até não sobrar imagem alguma.... nada...
Qual momento gravado na retina da tua memória buscarás de volta quando tragares lentamente o ar pela última vez?
Tuas lágrimas já não te convencem mais... basta.