terça-feira, 26 de agosto de 2008

Espelho D'água

Espelho, espelho meu...que me dizes depois de tantas primaveras, quantas já são? Perdestes a conta, ou não fazes mais questão de contar?
Tantas tormentas enfrentastes de peito aberto, tão aberto, a ponto de rachar...Tantas noites de terror vivo e em câmera lenta, ouvindo teu coração pulsar no desespero da dúvida...com que forças te levantastes do chão?Já chegastes a ver as marcas dos teus erros, das palavras não ditas, dos sonhos abafados, da dor provocada, do mal consentido, da pura falta do que é luz e eterno....mas diga-me: tivestes coragem de limpar?
Teu sangue já verteu tanto, e de novo, e sempre.... Onde está tua força, onde ela se esconde? Onde ela se mostra? O que te é insuportável? Qual é o teu limite? Já chegastes lá? Ou já passastes por ele há tempos?
Que frio contorcido é esse que sentes a cada pôr-do-sol? Como se a luz dourada e morna rachasse tua alma em milhões de minúsculas partículas invisíveis e inconsistentes até não sobrar imagem alguma.... nada...
Qual momento gravado na retina da tua memória buscarás de volta quando tragares lentamente o ar pela última vez?
Tuas lágrimas já não te convencem mais... basta.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Em branco

Tantos estímulos

Tantos motivos

Tantos dons

Nada parece suficiente

Nada preenche o vazio

Dor, cansaço, apatia

As roupas carinhosamente dobradas

Guardadas num armário novo, reluzente...

Essas mesmas roupas já vestiram alguém

Alguém com personalidade, decisão, amor, fé

Alguém cujos sonhos alcançavam as brancas nuvens de verão

E iam bem mais além

Alguém cuja vida tinha sentido

Que sentia dor, tristeza e até medo...

Mas também alegria, confiança, prazer

Alguém que funcionava... que existia... alguém.